domingo, 11 de abril de 2010

Em casa de ferreiro quem tem um olho é rei... ou “Em busca de Nêmesis”


O Curso de Letras da Universidade Federal do Paraná possui atualmente, além do português, sete habilitações em línguas estrangeiras, às quais podemos acrescentar grego e latim. Apenas duas destas são recentes: japonês e polonês; e todas as sete oferecem a opção de licenciatura plena. Se considerarmos também os bacharelados, são 54 possibilidades formativas, segundo os nossos interesses e escolhas.

Nós fomos aprovados em concurso vestibular ou transferidos por reaproveitamento de vagas. Somos quase 1000 alunos da graduação. Aos estudantes das licenciaturas é facultado o estágio remunerado, podendo atuar como professor aprendiz do Centro de Línguas e Interculturalidade - Celin, uma escola-escola de línguas criada no nosso Curso de Letras para este fim, que hoje atende majoritariamente à comunidade externa pagante. Como centro de línguas ele já teve mais de 4.700 alunos matriculados. Depois de quinze anos da sua fundação o atual Celin é um vultoso empreendimento no setor de escolas; mas, não nos esqueçamos, é uma instituição da UFPR, que funciona através da Funpar, que é uma fundação.

O Celin tem sido frequentemente festejado como um caso de sucesso, um pólo de difusão de cultura e interculturalidade; porém, existe o reverso desta medalha, que carece de todo este brilho tão habilmente divulgado aos meios de comunicação, e, que precisa ser revelado à opinião pública. Uma das distorções que vem ocorrendo no Celin, já há muito tempo, a qual nos move nesta denúncia, é que alunos da graduação, das licenciaturas do Curso de Letras da UFPR, vêm sendo preteridos no seu direito de estágio em benefício de professores profissionais; numerosos no corpo docente da instituição, muitos sequer têm a graduação em letras e muito menos qualquer licenciatura. Prática comum em escolas particulares de idiomas, a contratação de não graduados, como mão-de-obra, é execrável em uma Universidade Pública, que forma professores de línguas.

O Celin exige, para o ingresso em seus quadros, a conclusão de um curso que recebe uma pretensiosa denominação de: “Formação de Professores”, com uma carga horária de poucas dezenas de horas. Uma licenciatura plena tem a duração de 4,5 anos em nossa universidade. O referido curso de admissão, ou melhor, de “Extensão Universitária” leva a chancela da UFPR e funciona como um eficiente mecanismo para descartar estudantes de letras, possíveis estagiários, e também arregimentar e validar a contratação de profissionais não habilitados (não graduados em Letras) mesmo para as línguas das licenciaturas do nosso Curso de Letras. Todos recebem um “Certificado de Capacitação” com o timbre da UFPR.

Isto é injustificável, não é ético, não é moral. Será lícito? Inexplicavelmente esta seleção arbitrária é feita pelos nossos próprios professores, eles são coordenadores das respectivas línguas na instituição, são eles próprios que atestam a nossa falta de capacidade e experiência para atuar no Celin, além disso, dão-nos a desculpa de sempre faltarem vagas, ou que estes de profissionais de “carreira” são os melhores para atuar na instituição. Algumas línguas chegam a funcionar no Celin como escolinhas particulares de idiomas, contratando os “melhores professores”, contrariando a filosofia do ambiente universitário nas quais se inserem, sem terem uma postura didática e pedagógica de uma escola de aplicação, intenção primordial da instituição.

Não podemos entender a razão disto. Não podemos sequer imaginar qual é a intencionalidade implícita nesta prática, que reputamos, sem dúvida, isenta de coerência e de lisura acadêmica. Os admitidos no na escola, que não são estagiários, graduados em Letras ou não, são contratados através da Ceilin, uma cooperativa “filha” do Celin, que legaliza indistintamente esta mão-de-obra.

É notória a avidez pelos números na instituição, representada pelo inchaço da instituição e o consequente aumento de faturamento. Atender à demanda não justifica a arbitrariedade. É preciso atender a demanda? Isto acontece em proveito de quem? Sem dúvida não é dos alunos do Curso de Letras da Universidade Federal do Paraná. Muitos também são os nossos colegas, com a licenciatura em línguas da graduação da UFPR que, não tiveram e não têm oportunidade no Celin, que já existe há quinze anos, tempo mais que suficiente para formar e manter um corpo docente graduado, base para formação dos alunos estagiários das nossas licenciaturas. Lembramos também que todas as licenciaturas, à exceção dos cursos de japonês e polonês, já funcionam em nossa universidade há muitas décadas, já chegaram à maturidade, formaram milhares de professores naquele que é um dos melhores cursos de Letras do país.

O Celin é, não esqueçamos, parte de uma Universidade Pública, que não pode ser objeto de uma ação venal em detrimento de seus próprios alunos, profissionais por ela graduados e da comunidade que busca o aprendizado de línguas. Ostentando o nome da Universidade Federal do Paraná, recebendo seu aval e funcionando no âmbito de uma fundação, o Celin precisa mudar urgentemente e prestar contas à sociedade. Em um país onde é tradição a apropriação do público pelo privado, preterir estudantes de letras ou jovens professores graduados é roubar esperanças.

Centro Acadêmico de Letras - UFPR